Cirurgião fala sobre fimose na infância

Texto publicado em agosto de 2011, no jornal Edição do Brasil.

A fimose é uma condição na qual não se consegue expor a glande do pênis por meio da retração do prepúcio, que é a pele que recobre o órgão. Na criança, a fimose não é uma doença; trata-se de um evento fisiológico que ocorre na maioria dos recém-nascidos. Apenas 4% dos recém-nascidos masculinos não apresentam fimose.

O cirurgião pediátrico do Hospital das Clínicas e professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, Clécio Piçarro, explica que na grande maioria dos casos a pele vai se soltando da glande naturalmente. Por volta dos três ou quatro anos de idade, 90% dos casos de fimose se resolve espontaneamente, ocorrendo aos poucos a exposição da aparte da glande.

Clécio Piçarro considera que é importante explicar aos pais a evolução natural da fimose.

“Apenas na adolescência a criança apresentará a anatomia do pênis de um adulto, com a glande completamente exposta. É só acompanhar e deixar a natureza agir, se a criança tiver um bom jato urinário e não apresentar histórico de infecções”, observa Clécio Piçarro.

O cirurgião considera que é importante explicar aos pais a evolução natural da fimose na criança, e que na maioria dos casos não é necessário nenhum tipo de tratamento. Ele condena uma prática ainda hoje adotada por muitos pais e às vezes até recomendada por profissionais de saúde: as massagens ou exercícios de tração da pele do prepúcio para baixo na tentativa de descolá-la para expor a glande e, consequentemente, evitar a cirurgia de fimose na infância.

Além do desconforto e da dor, estas manobras forçadas causam pequenas fissuras na extremidade da pele, gerando uma cicatriz. Aí, sim, pode ser necessário algum tipo de tratamento, para resolver essa cicatriz. Clécio Piçarro explica ainda que a higienização do pênis dos meninos nos primeiros anos de vida deve ser feita delicadamente, somente na parte que pode ser exposta, uma vez que entre a pele do prepúcio e a glande não existe espaço real, portanto não há acúmulo de secreção genital.

Entretanto, o cirurgião esclarece que existem exceções, como no caso de meninos que apresentam retenção do jato urinário, história de balanopostite (infecção da glande) e parafimose (compressão da glande por anel de pele do prepúcio). Nesses casos, estaria indicado o tratamento clínico, com uso tópico de medicamentos a base de corticoides durante um ou dois meses. Quando usados corretamente, há sucesso terapêutico na maioria dos casos. O tratamento cirúrgico estaria indicado apenas na falha do tratamento com corticoide tópico. Vale ressaltar que o tratamento cirúrgico é mais liberal em adolescentes.

Embora na grande maioria das vezes sem indicação científica, a cirurgia de fimose na infância ainda é praticada em larga escala em diversos países, por motivos religiosos ou culturais, principalmente entre os povos judeus e mulçumanos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 30% da população masculina mundial foi submetida à circuncisão, o que é a cirurgia de fimose.

Nos Estados Unidos, estima-se que 60% dos recém-nascidos do sexo masculino sejam submetidos ao procedimento cirúrgico antes de receberam alta do berçário. Calcula-se que este procedimento cirúrgico, um dos mais antigos da humanidade, seja realizado há mais de cinco mil anos. Há, inclusive, referência sobre ele no Antigo Testamento da Bíblia.

Clécio Piçarro só opta pelo tratamento cirúrgico nos poucos casos que realmente apresentam indicação clínica. Com isso, raramente faz uma cirurgia de fimose em crianças.

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