Tecnologia na infância: quantidade ou qualidade?
Publicado em 3 de fevereiro de 2020Da mesma forma que as telinhas são verdadeiras “salvadoras” na hora do aperto, já discutimos aqui o quanto a tecnologia na infância pode ser prejudicial à saúde do seu pequeno.
O problema é que, ao passo que o mundo se desenvolve, a sociedade caminha com ele. Em outras palavras, seu filho VAI crescer observando os pais mexendo (e muito) nos smartphones e tablets. Enquanto isso, você, que não sabia “como as pessoas viviam sem celular”, se verá obrigado a presentear a criança com um quando ela começar a sair para as festinhas da turma, ou passar a maior parte do dia na escola.
Basicamente, essa situação é um baita paradoxo: a criança vai querer mexer nesses dispositivos, vai lutar por isso, e a telinha continuará lá, com seus efeitos negativos, porém, sedutores, para a saúde de qualquer pessoa.
Ó céus, o que fazer então? Bem… sem neuras. É sobre isso que vamos conversar hoje!
Quantidade x Qualidade
Lutar contra a tecnologia na infância, acredite, é praticamente impossível. Eu sei, eu sei. Criança tem que brincar na rua, rolar na lama, ir ao teatro, simular histórias com seus brinquedos e por aí vai. Porém, não adianta. Os amiguinhos do seu pequeno já não fazem isso com tanta frequência.
No lugar, eles vão mostrar ao seu filho aqueles jogos bacanas, vídeos engraçados e filmes divertidos. Aí você me conta como vai ser mandar o pequeno brincar de pique-esconde nessas condições. Simplesmente impossível, né?
Pois é. Quando é assim, precisamos nos aliar à tecnologia. Atualmente, existem mil e um aplicativos apropriados para o público infantil, e tecnologias que permitem que o responsável bloqueie sites que ele considere nocivos aos pequenos.
Certas atividades em tela, na verdade, podem ser muito positivas para o crescimento do seu filho, assim como desenvolvimento de habilidades motoras, mentais e até mesmo sociais.
O segredo, então, é prezar pela qualidade do tempo de tela
É claro que a quantidade do tempo de tela também não deve deixar de ser monitorada. Porém, não é disso que vamos falar hoje. O bate-papo da vez vai te ensinar a proporcionar ao seu filho uma boa, segura e saudável experiência tecnológica. Preparado(a)?
Fique atento às “técnicas de sedução” das tecnologias
Não, não. Isso não é tão difícil quanto parece. Olha só: já percebeu que, sempre que estamos checando nossas redes sociais, ou navegando na internet, uma série de recomendações e anúncios aparecem na medida em que rolamos a tela?
Chega a ser impressionante. Se estamos procurando por uma receita, logo logo somos levados à outra e outra e, quando assustamos, estamos presos em um looping de micro-vídeos culinários. Isso quando, sem percebermos, nos pegamos assistindo vídeos de pessoas tirando cravos (sim, eu sei que você já caiu nessa, eu também).
Bem, isso acontece por causa dos algoritmos…
Simplificando, eles nada mais são que um conjunto de regras ou etapas que informam ao computador como executar uma determinada tarefa. Muitos sites os usam para organizar o conteúdo que vemos, ou fazer recomendações personalizadas para produtos que possamos gostar.
Isso pode parecer inofensivo, mas é importante ter em mente que os algoritmos não estão lá apenas para facilitar a sua vida. A verdade é que eles, sutilmente, manipulam nossa experiência. Agora, se isso já pode ser meio perigoso para nós, adultos, imagina para os pequenos?
É aí que o tempo de tela entra!
As crianças são especialmente suscetíveis a esse tipo de algoritmo porque não têm o mesmo controle de impulso que nós. Isso sem falar que a experiência na telinha não é a mesma que um livro, por exemplo, que é fechado quando um capítulo acaba, ou a brincadeira encerrada quando o vencedor é nomeado.
Mídias sociais, serviços de streaming e jogos online geralmente não têm um ponto “final”. A Netflix começa o próximo episódio em 10 segundos, ou recomenda um novo filme quando o outro chega ao final. O mesmo acontece com o Youtube.
Por isso, o importante é observar se os aplicativos, serviços e plataformas possuem esses algoritmos, e ficar atento a eles. Normalmente, é possível até desativar alguns mecanismos, mas, infelizmente, não todos. Por isso que a presença de um responsável é fundamental nesse processo.
Estabeleça regras
Combine com o seu filho uma série de horários em que ele possa acessar esses conteúdos, e estabeleça um tempo para eles. De preferência, escolha momentos em que algum adulto possa ficar perto para observar a atividade do pequeno, e intervir caso seja necessário.
Atenção: aí vão algumas condutas que DEVEM ser evitadas quando o assunto é tecnologia na infância:
- colocar algum vídeo para rodar durante as refeições: essa pode parecer uma boa tática para pais desesperados de filhos mega exigentes com a comida. Porém, é importante insistir na alimentação consciente (mindful eating), ou seja, na concentração do pequeno durante a refeição. Assim, ele saberá dizer quando está satisfeito, e não correrá riscos de cair em uma compulsão alimentar ou outros problemas relacionados.
- deixar que o filho seja exposto às telinhas antes de dormir: lembra que já conversamos sobre isso? A tela azul, presente em todos os dispositivos tecnológicos, pode prejudicar o sono do seu pequeno e até mesmo prejudicar sua visão. Para saber mais sobre esse assunto, inclusive, é só clicar aqui.
- ceder à birras: a educação é um processo que exige paciência, e eu sei bem disso. Porém, é preciso estabelecer limites. Não precisa ser de forma “violenta”, e muito menos chantagiosa. Basta conversar bastante com o pequeno, explicá-lo os motivos pelos quais os combinados são feitos e por que ele deve obedecê-los.
Cuidado com as métricas de vaidade
Ah, os famosos likes, comentários, visualizações e compartilhamentos. Todos estes são métricas de vaidade disfarçadas de interações. Quando publicamos algo e os outros reagem a ele, sentimos uma sensação de “validação social”. Bizarro, né? É aquela velha história: as mídias sociais exploram nosso desejo inato de pertencer a algo.
O problema é que várias pesquisas recentes demonstraram como essas métricas de vaidade podem afetar nosso cérebro. A notificação de um like em alguma publicação, para se ter ideia, libera uma dose cavalar de dopamina (neurotransmissor do prazer) no organismo. Se você já sentiu uma vontade LOUCA de verificar o telefone depois de publicar uma foto no Instagram, por exemplo, sabe muito bem do que estou falando.
O perigo das redes para a nossa saúde emocional
Todo mundo aqui sabe o quanto a adolescência (e a fase de crescimento, como um todo) pode ser difícil. É aquela época em que precisamos nos provar para Deus e o mundo, aprender a lidar com as frustrações e, principalmente, quando o bullying começar.
Da mesma forma que temos a “validação social” de uma foto bonita, também temos a “desvalidação”. E, acredite: o meio-termo entre esses dois é bem mais cinzento do que parece. Quem faz sucesso no instagram sofre para mantê-lo, enquanto outras pessoas de desdobram para alcançá-lo.
Nisso tudo, criamos um senso de “vida perfeita” e aparências fora do normal. Basicamente, não importa se o pequeno é popular ou não. Por causa desses “likes”, ele sempre vai querer se enquadrar em algum padrão social para conseguir MAIS aprovação. E sim, isso inclui querer emagrecer, alisar o cabelo etc.
O bullying
É claro que não podemos deixar o bullying de fora. Atualmente, entramos na era do cyberbullying, em que as pessoas são BOMBARDEADAS por comentários negativos de TODOS os lados. Além de sofrer críticas na escola, seu filho, quando exposto nas redes sociais, também pode sofrê-las online.
Por isso, faça questão de vigiar as redes dos pequenos (e grandinhos também). A privacidade é um detalhe importante, que precisa ser respeitado. Porém, é preciso encontrar um meio termo para preservar a saúde mental da família.
Uma boa dica é prestar atenção no comportamento dos filhos. Repare se eles estão “se produzindo demais” para tirarem alguma foto, ou se entraram em alguma dieta maluca, por exemplo. Veja, também, se eles não andam abatidos, tristes. Converse com eles, tenha diálogos sinceros, abra espaço para desabafos e acredite: as redes sociais se tornarão um lugar muito menos nocivo.
Enfim…. a tecnologia na infância pode, sim, tornar-se uma aliada
No que diz respeito ao tempo de tela, então, precisamos nos fazer as perguntas certas – e isso significa examinar que tipo de atividades nossos filhos estão realizando em seus dispositivos. Afinal, é muito melhor que eles fiquem uma hora inteira com o celular de um jeito seguro e saudável, do que dez minutos em um ambiente nocivo.
Em caso de dúvida, tente procurar pelos seguintes aspectos:
- eles estão em uma plataforma em que o conteúdo é reproduzido automaticamente? Se sim, procure mudar isso.
- eles são incentivados a clicar nos links recomendados? Se sim, estude a qualidade e confiabilidade desses links. Caso seja necessários, utiliza de ferramentas que o desativem. Existem várias por aí, é só procurar.
- a plataforma promove curtidas, comentários ou outras métricas de validação social? Se sim, observe-a o máximo que conseguir (respeitando a privacidade do seu filho, claro) e estabeleça diálogos sinceros e abertos diariamente.
Em todos esses casos, uma supervisão mais rigorosa e prazos mais definidos ajudarão você – e seus filhos – a controlar o consumo de tecnologia na infância.
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