Suicídio na adolescência: como lidar com ele?
Publicado em 10 de setembro de 2019O suicídio na adolescência, além de ser um tabu, é geralmente muito incompreendido pela sociedade. Afinal, é normal escutarmos, de alguma pessoa, alguns comentários como “não ligue. Ele (a) só está querendo chamar atenção”.
Ocorre que crianças que falam, ou escrevem sobre tirar a própria vida, são descartadas como excessivamente dramáticas – e obviamente não são. Basicamente, todos nós deveríamos saber que uma ameaça de suicídio nunca deve ser descartada.
Porém, é importante saber, também, responder a ameaças e outros sinais de alerta de maneira séria e ponderada. Afinal, eles não significam, necessariamente, que a pessoa tentará suicídio, mas sim que ela, com toda certeza, está sofrendo e precisa de ajuda. .
Pensar sobre tudo isso nos fez ter a iniciativa de, hoje, conversar um pouco sobre esse assunto, e ajudar nossos leitores a entenderem quais são os fatores tornam um jovem mais ou menos propenso a considerar o suicídio, e o que fazer a respeito. Vamos lá?
O suicídio na adolescência é comum? Por quê?
Sejamos honestos: a adolescência é um período estressante. Os jovens, durante ela, estão cercados por mudanças corporais, de pensamentos e até mesmo sentimentos. Além disso, ainda existem o estresse, a confusão, o medo, a pressão e as dúvidas que fazem parte da vida acadêmica e amorosa deles.
Então sim: a puberdade não é fácil, e se o jovem possui tendências para doenças mentais, a situação complica bastante. Aliás, vamos conversar um pouco sobre isso no próximo tópico.
O que torna os adolescentes vulneráveis ao suicídio?
Muitos adolescentes que tentam, ou morrem por suicídio, têm uma condição de saúde mental. Como resultado, eles têm outros problemas para além de lidar com o estresse de estarem na puberdade.
Normalmente, problemas como depressão, ansiedade etc os atrapalham, diretamente, de superarem aspectos normais dessa fase como rejeição, fracassos, rompimentos e turbulências familiares.
Porém, é preciso lembrar que, além das doenças mentais, existem outros fatores de risco para a ideação suicida na puberdade.
Quais são os fatores de risco para o suicídio na adolescência?
- Ter um distúrbio psiquiátrico, incluindo depressão;
- perda ou conflito com amigos próximos ou familiares;
- histórico de abuso físico/sexual, ou exposição à violência;
- problemas com álcool ou drogas;
- problemas físicos ou médicos como, por exemplo, engravidar, ter uma DST, possuir algum defeito, estar em sobrepeso etc (o que nos leva, inclusive, ao próximo tópico);
- ser vítima de bullying;
- ter dúvidas e dilemas morais sobre a própria orientação sexual;
- exposição ao suicídio de um membro da família ou amigo;
- fazer parte de alguma cultura/religião que acredita que o suicídio é uma causa nobre;
- histórico familiar de transtorno de humor.
A modernidade possui alguma relação direta com o suicídio?
Infelizmente, sim. Para se ter ideia, de acordo com a OMS, a taxa de suicídio entre os jovens (10 a 19 anos) aumentou em aproximadamente 40% nos últimos dez anos. Além disso, estima-se que dois adolescentes, a cada dia, tiram (ou tentam tirar) a própria vida.
Isso pode ter relação direta, por exemplo, com a velocidade do acesso à informação, e à popularização do uso da internet. Por mais que seja muito bacana poder pesquisar o tema do seu trabalho de escola no Google (ao invés de passar a madrugada na biblioteca), e conversar com pessoas distantes, existe um perigo sério nisso.
Todo pai, nestes últimos anos, já se alarmou com casos como o jogo da Baleia Azul e a Boneca Momo. Isso sem falar nos filmes e seriados que abordam o suicídio de forma transparente, literal e, pior: romantizada. É o caso das polêmicas que envolveram o seriado 13 Reasons Why.
O grande problema é que, caso você ainda não saiba, os casos da Baleia Azul e da Boneca Momo, por exemplo, eram FALSOS. Porém, devido ao compartilhamento em massa dos pais preocupados, jovens alarmados e mídia mal preparada, ambos se tornaram “reais”. Afinal, inspiraram pessoas a tirarem a própria vida. Por isso que é importante monitorar tudo que o jovem acessa (e não precisa invadir a privacidade dele para isso. É só manter um bate-papo sincero e estabelecer regras justas), e evitar compartilhar fake news.
Por fim, existem várias outras hipóteses associadas aos alarmantes dados envolvendo a questão suicídio na adolescência. Alguns exemplos são o aumento significativo da oferta de drogas, e as mudanças gerais no estilo de vida. Hoje em dia, dispositivos eletrônicos como videogames, celulares, computadores etc, fazem cada vez mais parte do cotidiano dos jovens, podendo viciá-los em jogos, fazer com que eles interajam menos com as pessoas, influenciar na quantidade de sono por noite e por aí vai. .
E quais são os sinais de alerta de que um adolescente pode ser suicida?
- Conversar muito (ou escrever) sobre suicídio;
- diminuir o contato social;
- ter muitas alterações de humor;
- usar drogas ou consumir álcool;
- sentir-se preso, ou sem esperanças com uma ou mais situações;
- apresentar mudanças na rotina diária, incluindo padrões de alimentação e sono;
- fazer coisas arriscadas ou autodestrutivas;
- dar seus pertences a outras pessoas quando não há explicação lógica para isso;
- desenvolver mudanças de personalidade, ou ficar seriamente ansioso ou agitado ao experimentar alguns dos sinais de alerta listados acima.
O que devo fazer se suspeitar que meu filho é suicida?
O primeiro passo é conversar com ele imediatamente. Dica importante: não precisa ter medo de usar o termo “suicídio”, e de falar abertamente sobre ele. Quanto mais esclarecimentos o jovem tiver, melhor. Porém, nunca use de artifícios como a “culpa” ou a “repressão” para evitar que ele tente tirar a própria vida. Lembre-se: a sinceridade é a melhor chave.
Peça para que seu filho explique o que está sentindo, e não descarte ou menospreze nenhum de seus sentimentos. O segredo é acolhê-lo, fazê-lo se sentir amado, amparado e apoiado.
Por fim, não deixe, em hipótese alguma, de procurar ajuda profissional. Afinal, é aquilo que falamos no começo da nossa conversa: apresentar comportamentos suicidas não quer dizer, necessariamente, que a pessoa vai tentar tirar a própria vida. Porém, é óbvio que ela está sofrendo, inclusive de saúde mental, e precisa de ajuda.
E outra: é importante lembrar que doenças mentais são tão perigosas quanto as físicas. Se não se fala a uma pessoa gripada que “tudo o que ela precisa fazer para cessar os espirros, tosses e dores de garganta é simplesmente reagir e dar a volta por cima”, não se fala a uma pessoa depressiva que “basta que ela sorria mais para sair dessa deprê”.
Onde você pode buscar ajuda?
- Terapia individual;
- grupos de apoio;
- psiquiatras (quando o caso exige medicamentos – e é importante lembrar que não precisa ter vergonha nisso);
- Centros de Atenção Psicossocial (CAPS): nestes centros, são disponibilizados serviços e atendimentos direcionados à saúde mental e, o melhor de tudo: de forma comunitária;
- Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h): para quem precisa de atendimento urgente e gratuito (com atendimento móvel pelo SAMU – 192);
- Centro de Valorização da Vida (CVV): exerce atendimento voluntário para quem precisa de apoio e direcionamento emocional, incluindo a prevenção ao suicídio. O contato pode ser via pessoal (conversa sob sigilo), telefone, chat, e-mail e voip 24 horas/7 dias por semana.
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Este conteúdo foi originalmente publicado no portal Convite à Saúde.