Uma “doce” experiência

Em julho de 2013, tive a oportunidade de fazer um curso de diabetes nos EUA, focado em bomba de insulina. Além do conhecimento científico, das informações e bibliografia fornecidas, experimentamos um pouco do dia-a-dia do diabético. Como? Tentando me comportar como se estivesse aplicando insulina.

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Aplicação da cânula do sensor.
Processo indolor.

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Posicionando o local onde o sensor será ligado.

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Sensor de glicose conectado.
Funcionando!

Durante 2 dias, fiquei conectado ao sistema de infusão contínua de insulina, também chamado de “bomba de insulina”. Ao invés do hormônio, foi infundido no meu tecido subcutâneo soro fisiológico, para que não houvesse acidentes… E não somente isso: também foi instalado no meu corpo o monitor contínuo de glicose, o que possibilita leituras da glicemia do líquido intersticial (logo abaixo da pele) a cada 5 minutos. Aliado ao tratamento “medicamentoso”, fiz cerca de 8 glicemias capilares ao dia e também contei carboidratos para selecionar a dose exata de insulina em cada refeição. Pude concluir que é uma tarefa difícil!

 

A bomba de insulina não é novidade no tratamento do diabetes. No Brasil, no entanto, por se tratar de um recurso caro, é muito pouco utilizado, infelizmente. Nos EUA, cerca de 50% dos diabéticos tipo 1 (“insulino-dependentes”) são tratados com bombas de insulina, geralmente fornecidas pelas seguradoras de saúde. Dentre as principais características desse tratamento, destacam-se a maior precisão das doses de insulina, a maior comodidade para a sua administração e menor variabilidade da glicemia dos diabéticos. Nem todos se beneficiam do seu uso, que deve ser ponderado em cada caso. Conectar-se a um dispositivo do tamanho de um antigo “pager” através de um catéter (um fino tubo de plástico que leva a insulina) pode ser fácil para alguns, mas um estigma para muitos. Da mesma forma, a inovação tecnológica pode assustar aquelas pessoas mais conservadoras, com maior dificuldade de manusear dispositivos eletrônicos. Mas não se assuste, a bomba geralmente descomplica mais do que complica!

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Sensor de glicose em funcionamento. Glicemias estáveis durante a madrugada. Após o café-da-manhã, elevação da glicemia. No momento, 106 mg/dL (meta atingida).

O monitor contínuo da glicose é um recurso muito interessante para ser adicionado à terapia. Apesar da acurácia da medida não ser perfeita, já que o material analisado não é o sangue, mas o líquido intersticial, a medida da glicose no aparelho revela tendências que podem antecipar eventos como hipoglicemias. Por exemplo, se a glicemia estiver caindo rapidamente, antes mesmo de haver um episódio de hipoglicemia, um alarme pode alertar o diabético a tomar uma atitude, como fazer uma glicemia capilar ou consumir um alimento. Esse recurso é especialmente interessante para crianças pequenas, já que as oscilações são frequentes e os episódios de hipoglicemia costumam acontecer repentinamente, nem sempre com sinais ou sintomas de alerta, e de madrugada.

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Instalação da cânula da bomba de insulina.
Também muito tranquilo!

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Bomba funcionando!
Como diz a Carol Freitas, agora também sou “bombado”!

Já imagino a pergunta que naturalmente vem à cabeça de cada um: “basta integrar os 2 sistemas e pronto, teríamos um pâncreas artificial”! Bem, ainda não temos essa “conversa” entre o monitor de glicose e a bomba de insulina. Mas algumas pesquisas já estão sendo realizadas para se encontrar uma fórmula matemática (uma regra de 3 não basta!) capaz de realizar os ajustes da infusão de insulina baseados nas variações da glicose.

Projeto de Israel – pâncreas artificial para adolescentes (clique para assistir).

 

Voltando à minha experiência, foi uma grande oportunidade de entender um pouco mais do mundo do diabético. Não estou sendo simplista na minha análise, mas tentei seguir à risca as recomendações do “meu médico”. Fiz as glicemias capilares, anotei cada uma na tabela; às refeições, fiz a contagem de carboidratos, recurso essencial para o sucesso do tratamento com bomba. Nada fácil! Quebrei a cabeça, utilizei tabelas, livros, aplicativos do iPhone, tudo para tentar acertar ao máximo. E digo que é possível, sem dúvida!

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Fazendo uma dosagem da glicemia capilar atrasada.
Tem que ser ANTES de comer, não é Dr. Rafael?!

Entender o funcionamento de todos os recursos da bomba de insulina só foi possível com o manuseio total do aparelho. O endocrinologista pediátrico deve se preparar para utilizar essa tecnologia, uma de tantas para o tratamento do diabetes, afinal, é uma indicação precisa para alguns grupos de diabéticos. Ademais, usar os gráficos, tabelas e figuras fornecidas pelo software da bomba é de grande valia para o ajuste correto das doses de insulina (veja abaixo).

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Em conclusão, temos hoje a possibilidade de utilizar a tecnologia como grande aliada no tratamento do diabetes. Apesar de todos esses novos recursos disponíveis no mercado contribuírem muito para a segurança do tratamento do diabetes e para a redução de suas complicações agudas e crônicas, o sucesso do tratamento só é possível com o entendimento pelo médico e pela família que o foco principal sempre deve ser o diabético. É ele quem toma as decisões relativas ao seu estilo de vida, à sua alimentação, é quem cuida do seu tratamento e quem pressiona os botões de cada funcionalidade da bomba de insulina.

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