Importância da autonomia alimentar
Publicado em 24 de fevereiro de 2022A Organização Mundial da Saúde (OMS), a Academia Americana de Pediatria (AAP), o Fundo das Nações Unidas para a Saúde (UNICEF) e o Ministério da Saúde são unânimes em escolher a prática da alimentação responsiva como o melhor processo de aprendizagem e de boa educação alimentar na infância, que tem como um importante pilar a autonomia alimentar, além do desenvolvimento das habilidades e das competências para alimentação.
As experiências alimentares que favorecem a autoalimentação auxiliam de forma muito positiva o desenvolvimento infantil nos aspectos alimentares e no estilo de vida da criança; e precisam acontecer no período mais apropriado para o aprendizado, uma janela de oportunidade que se inicia aos 6 meses de idade, com a prontidão alimentar, e vai até os 3 anos, quando a criança já pode comer igual a um adulto de uma perspectiva motora.
E comer é uma experiência sensorial. Quando as crianças podem tocar o alimento usando suas próprias mãozinhas, elas ficam mais confiantes e confortáveis, adquirindo mais prontidão para consumi-lo. Aprender a manipular os alimentos com as mãos é um dos principais marcos do desenvolvimento que determina a autoalimentação.
Entretanto, é importante que se avalie o estágio de neurodesenvolvimento, ou seja, os principais sinais de prontidão da criança, necessários para se autoalimentar, que são:
- Adequação do tônus cervical e do tronco;
- Sucesso ao sentar-se ereto com pouco ou sem apoio;
- Demonstração de interesse por alimentos, alcançando e pegando-os.
Introduzir um alimento no momento inadequado ao estágio de neurodesenvolvimento da criança pode levar ao registro de experiências alimentares negativas que contribuem muito para o desenvolvimento de quadros de recusa alimentar na infância.
Preensão palmar e movimento de pinça
O reflexo palmar da criança inicia-se no primeiro mês de vida e vai se aprimorando com os estímulos feitos no alcance de objetos. Por volta dos 5-6 meses, consegue agarrá-los com os quatro últimos dedos e adução do polegar, aprimorando a preensão palmar, e tocar pequenos objetivos com o dedo indicador. Já aos 7-8 meses, inicia o movimento de pinça, segura pequenos alimentos e com a ajuda do polegar faz uma pinça; consegue ter a extensão dos braços e com isso levá-los até a boca. E entre 8 e 10 meses, já terá a habilidade de comer de forma mais segura alimentos com as mãozinhas, especialmente pequenos alimentos através de um aperto em pinça.
Neste momento, a estimulação com pequenos alimentos, ou chamados “finger foods”, em tamanhos, formatos e consistências adequados e que não levem ao risco de engasgos, pode ser uma boa estratégia de desenvolvimento das habilidades motoras finas, como o movimento de pinça para a autoalimentação.
São exemplos de finger foods adequados nesta fase:
- Biscoitinhos para bebês;
- Frutas maduras e macias cortadas em quadradinhos;
- Tiras de legumes ou carnes, bem cozidos e macios;
- Ovos mexidos e bem cozidos.
Os bebês podem comer os finger foods mesmo antes de terem dentes, pois eles podem amassar os alimentos em pedaços menores usando suas gengivas.
Ao proporcionar oportunidades para a criança desenvolver suas habilidades motoras, ela atinge sua autonomia alimentar, pilar fundamental da alimentação responsiva, que resulta em uma conexão positiva entre o cuidador, o bebê e o alimento, e favorece o desenvolvimento de saúde e bem estar ao longo da vida.