Disciplina e Birra
Publicado em 14 de junho de 2016O que é birra?
Ataque de cólera infantil, aparentemente desmotivado ou por um motivo aparentemente fútil. É importante parar para pensar: o que ela realmente deseja (atenção, disputa de poder, revide)? Existe alguma circunstância que serviu de gatilho (sono, cansaço, ciúme)?
É importante reconhecer que a birra é um processo normal de desenvolvimento da criança (que adquire maior relevância após o 2 anos), que ainda não controla suas emoções de raiva e precisa de um escape… A criança precisa dar vazão àquele turbilhão de sentimentos negativos que se acumulam.
Quando isso não acontece ou quando reprimimos veementemente a birra corremos o risco de embotar os sentimentos da criança, tornando-a insegura e favorecendo que seja um adulto “engolidor de sapos” com “úlcera nervosa”…
O que fazer na hora da birra da criança?
Evitar uma situação previsível de encrenca é a saída ideal. Os pais costumam ver apenas duas soluções: ceder ou castigar. Imaginam que, assim, estão rompendo com o conflito. Não estão, pois, se a criança usa a birra para chamar a atenção, já conseguiu o que queria e vai repetir a dose.
Deixa-a se acalmar em um canto apropriado, para que ela tenha tempo de organizar seus sentimentos (“cantinho do pensamento” ou “time out”).
Como fazer meu filho fazer o que eu quero?
Agir mais e falar menos.
A criança não precisa de um longo discurso de argumentação. A explicação deve ser sucinta. Diante de uma birra, o mais acertado é ajudar a criança a se acalmar logo e, depois, lhe explicar por que não pode fazer ou ter o quer de forma resumida. Quando a criança sente que é ouvida e respeitada, confia mais no adulto e pode aceitar com mais facilidade as regras, mesmo numa situação imprevista.
Em vez de tentar convencer a criança a realizar algo (tomar banho, escovar os dentes, etc), simplesmente faça. Ela aprende que para algumas coisas não há negociação. Apelar para brincadeiras e fantasias pode ajudar na criança antes dos 4 anos.
Como evitar a crise em locais públicos?
- Procure não impor limites desnecessários, deixando-se influenciar por seu (mau) humor.
- Considere a disposição da criança para o programa, mesmo que seja coisa rápida. Criança cansada fica chata. Antes de sair, verifique se a criança já descansou, se já se alimentou adequadamente e se está estimulada para o passeio.
- Convide seu filho a participar. No supermercado, por exemplo, peça a ajuda dele para escolher algo. O passeio fica mais interessante para ele.
- Lembre-se de que, na condição de adulto, você tem mais recursos que seu filho para enfrentar uma frustração. Se ele quer ir embora do shopping e você não quer, quem tem de ceder é você.
- Conhecer bem seu filho e manter uma rotina estruturada ajuda muito. Você saberá antecipar a maioria das situações. Novamente: antes de sair, verifique se a criança já descansou, se já se alimentou adequadamente e se está estimulada para o passeio.
- A criança não pode vencer as batalhas recorrendo ao escândalo. Em troca do silêncio, jamais ofereça compensações como um doce, brinquedo ou passeio. Também não se desgaste passando sermões. Uma saída é tirar a criança do lugar público e explicar de maneira firme que ela não pode se comportar desse jeito. Se fizer novamente, deverá ser informada de que não irá ao supermercado na próxima vez.
Quando posso dar umas palmadas?
As palmadas são um testemunho da incompetência dos pais como educadores. A criança pode até obedecer, mas o faz por medo de apanhar, e não por respeito. Um olhar seguro e bem dado é, sem dúvida, muito mais eficiente.
Castigo funciona?
Funciona, sim. Ele alivia a culpa da criança, que paga o que estava devendo e tem direito a novos créditos. O castigo também age como disciplinador. Ele atirou um brinquedo contra a parede? Fica sem brincar com outro brinquedo por um ou dois dias. Uma falta grave pode ser castigada com a retirada de atenção. Você pode dizer que gosta muito de seu filho, mas ficou chateada com o que fez e não vai falar com ele durante um certo tempo.
Meu filho só faz o que peço quando grito. Como saio dessa situação?
O grito é um mau hábito. Ele não impõe disciplina. Um diálogo eficiente deve ser feito face a face, num tom de voz normal – ainda que você precise repetir a instrução para a criança.
Devo sempre explicar por que estou dizendo não?
Não. Até os 4 anos, a criança não deve receber muita explicação. Ela apenas quer autorização para fazer algo.
Devo tentar dar nome aos sentimentos da criança?
A conversa com a criança sobre como ela se sente é de particular importância, mas muitas vezes ignorada. Aos dois e três anos, crianças vivem uma turbulência de emoções: medo, braveza, tristeza e satisfação. Enquanto que as crianças podem não ter exatamente o mesmo significado que os adultos para essas emoções, elas podem aprender a rotular e identificar sentimentos bons e ruins. Não subestime a capacidade que elas têm de entender emoções e sentimentos.
Os pais podem ajudar seus filhos a desenvolverem uma linguagem para expressar e lidar com sentimentos dando nomes a eles. Ao fazer isso, os pais têm a responsabilidade de gerenciar seus próprios sentimentos para ajudar a criança a lidar com os dela. Pelo uso da brincadeira, você pode oferecer à criança algumas saídas emocionais para a raiva, o medo e a ansiedade.
Como lidar com a agressividade e a briga?
O foco de brigas normalmente está em querer o brinquedo que alguma outra criança tem. A agressividade é uma parte normal do crescimento e pode estar relacionada aos nossos instintos de sobrevivência. A maioria das crianças é consideravelmente agressiva quando defende seus pertences ou a si mesmas.
Não existem respostas fáceis para como lidar com a agressividade excessiva, mas certamente não faz sentido para a criança ou para os pais resolver agressão com agressão.
A maneira com que os pais lidam com essas situações não influencia em quão agressiva a criança será. A criança menos agressiva vem de famílias não punitivas, não permissivas e que não rejeitam seus filhos. Os pais em famílias assim são consistentes na forma como lidam com a agressividade. Eles não utilizam punições físicas duras ou linguagem dura desnecessária, apenas estabelecem limites firmes e claros sobre o que esperam de seus filhos e o que aceitam deles.
A consistência é importante em qualquer técnica de intervenção que você utilize para lidar com a agressividade dos filhos. Uma técnica útil é tirar a criança da briga e isolá-la por alguns minutos. Cuidar rápido da situação, antes que a briga saia do controle, ajuda. Assim que o seu bebê de dois anos conseguir falar, pergunte o que ele sente e quer. Fazer isso ajuda-o a aprender a se expressar verbalmente ao invés de fisicamente.
Algumas vezes, oferecer à sua criança uma alternativa para a energia acumulada ajuda a reduzir o nível de agressividade. Exatamente como com adultos, exercícios físicos ajudam a liberar a tensão e a reduzir o nível de estresse. Brincadeiras criativas também ajudam a criança a trabalhar tendências agressivas. Pais podem contar com a imaginação da criança para ajudar a trabalhar conflitos.
Televisão é saudável?
Assistir muita televisão pode causar um impacto negativo nos níveis de atividade das crianças. Enquanto elas se sentam e olham o televisor, parecem zumbis. Mais tarde, essas mesmas crianças ficam superativas, correndo sem rumo e com pouco conteúdo nas brincadeiras. Para piorar ainda mais, normalmente é difícil dizer onde os desenhos acabam e os comerciais começam.
Contudo, assistir a televisão com moderação também pode ter fins positivos. Bons programas educacionais e desenhos têm muito a ensinar ao seu filho.
Mas lembre-se sempre de que muita televisão, mesmo com programas de boa qualidade, pode levar a um estilo de vida sedentário e nada saudável.
Mesmo os melhores programas não superam os benefícios de experiências reais com pessoas reais.