Beagá for babies

Camila Mantovani*

Ilustração: Ana Vizeu

Criar um filho numa cidade grande é desafio para qualquer mãe

Quando o Francisco estava pra nascer (38 semanas), um motoqueiro nos agrediu verbalmente (eu e meu marido) e, em seguida, deu um soco no retrovisor do nosso carro. Ficamos duas horas à espera da polícia (que nunca apareceu) para fazer uma ocorrência. Nesse dia, só pensava em porquê colocar um filho neste mundo. Senti-me totalmente vulnerável, pois, se dentro da minha barriga ele corria perigo, imagine quando o cordão fosse cortado. “Os filhos são para o mundo”, dizem. Mas tinha que ser este mundo?!

E lá se vão 3 anos. O menino cresce entre montanhas, praças, clubes, parques, zoológico, aquários (de água doce e água salgada), museus, cinemas e campanhas de popularização do teatro infantil. (Destaque para montagem d’Os Saltimbancos deste ano que foi simplesmente sensacional! Fico emocionada toda vez que ele gosta de uma coisa que eu também gosto.).

De todas as opções, as que oferecem diversão mais barata e simples (pelo menos na teoria) são as praças e os parques. Esses são também os lugares mais legais para deixar a meninada correr solta e ainda são pontos de encontro, já que aquelas ruas da nossa infância, cheias de crianças para brincar, não existem mais. Daí que promover a socialização (fora da escolinha) exige certo esforço.

No quesito praça, a da Liberdade é a menos child-friendly: a grama não pode ser pisada e o movimento intenso do trânsito torna qualquer corrida atrás da bola um perigo só. Bom, pelo menos para meninos levados como o meu. A Praça JK, a do Papa, a da Assembléia e a recém-inaugurada Floriano Peixoto (Santa Efigênia) estão na minha lista das mais bem preparadas para receber pais e filhos (e até cachorros – mas isso já rende outro papo).

Dos museus, o dos Brinquedos é o feito na medida. Porém, os objetos em exibição são altamente tentadores e, como não podem ser tocados, tornam a visita um pouco tensa. “Não pode! Tira a mão! Vou te levar embora…”. Mas a vantagem é que, lá pela terceira vez, eles já aprenderam e aí fica tudo mais fácil. No “quintal” do museu, há um espaço onde as crianças podem criar seus próprios brinquedos (nas primeiras visitas, ia com o Francisco direto para lá). Sucesso garantido!

Dos parques, o das Mangabeiras e o da Pampulha (Parque Ecológico Promotor Francisco Lins do Rego) são ótimas opções. Mas vá preparada/o: no primeiro, você anda muito até achar um lugar legal. Por isso, não invente muita coisa para levar (principalmente se for sozinha/o) porque, no caso das crianças pequenas, na volta, pode ter a certeza de que, além de carregar as coisas que levou, terá o pequeno “desmaiado” no seu colo. Para o segundo, filtro solar e boné. Há pouca sombra e água fresca.

O zoológico é outra opção que mescla diversão e exaustão. Se for possível, evite os finais de semana. Fica tão lotado que nem os bichos querem aparecer!

O cinema é programa para aqueles dias em que você não está disposta a fazer muito esforço físico e quer ficar no ar condicionado. Uma dica: se você tem filho menor de 5 anos, não se apegue muito ao filme, ele pode querer sair na metade (ou logo depois do trailer) ou pedir para ir ao banheiro cinco vezes.

Posso me gabar de ser uma mãe empolgada (isso graças a uma amiga mais empolgada ainda, que me anima e me faz companhia no estilo mãezona). Tive também a sorte de poder diminuir um pouco o meu ritmo de trabalho e me dedicar aos primeiros anos de vida do Francisco (mas já não garanto que poderei fazer o mesmo com o próximo) e isso significa, dentre outras coisas, que 4 horas da tarde de uma terça-feira qualquer lá estava eu entre muitas babás e poucas mamães na Praça JK, correndo atrás do menino.

Hoje, olho para cenas como essa, e o que me vem é uma lembrança boa. Mas, no momento em que ela se desenrolava, tinha quase a sensação de que estava errada, de que filho não era coisa de mãe, mas sim algo a ser terceirizado, em nome do lugar que as mulheres conquistaram no mundo. C’est la vie. Voltemos ao tema.

Há, é claro, alguns programas que ainda não fiz com o Francisco, como ir à Biblioteca Pública Infantil, ao Planetário do Centro Cultural da Praça da Liberdade, ao Corpo de Bombeiros (toda criança é alucinada com os carros de bombeiros), ao Museu de Ciências Naturais da PUC-MG e a tantos outros lugares.

Mas deixemos a cidade se revelar aos poucos. Para ele e, quem sabe, para mim. Já que, aos três anos, a cidade parece ser muito mais legal que aos 30.

*Camila Mantovani é jornalista por formação, não por ofício. Pesquisadora por gosto e mãe por escolha. Doutoranda em Ciência da Informação na UFMG, consultora em estudos de Usabilidade e professora nos cursos de pós-graduação em Mídias Digitais e Design de Interação da PUC-MG.

FONTE: crônica publicada no site http://ahcidade.com, no dia 25/03/11.
http://ahcidade.com/2011/03/beaga-for-babies/

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