Constipação intestinal em crianças: o que fazer?

A criança que não vai ao banheiro todos os dias e, quando tem vontade, se queixa e chora porque “fazer cocô dói muito!” provavelmente está sofrendo de constipação intestinal.

A criança é considerada constipada quando vai menos do que três vezes por semana ao banheiro. As evacuações são difíceis, dolorosas e as fezes endurecidas. Em alguns dias, as fezes podem obstruir o vaso sanitário.

A criança que sente dor quando vai ao banheiro pode tentar evitar as evacuações cruzando as pernas ou se curvando e segurando a barriga.

Crianças constipadas podem sofrer de incontinência fecal e eliminar fezes líquidas, muitas vezes em locais inapropriados como na escola. Isso ocorre porque existe uma massa endurecida dentro do intestino grosso (no reto) e as fezes em formação, ainda amolecidas, conseguem passar ao redor dela.

A maioria dos casos de constipação têm causas funcionais e pode ser tratada sem medicamentos. Quando necessário, podem ser utilizados laxativos. O tratamento da constipação é longo e desafiador, mas muito importante para evitar complicações como: fezes impactadas, fissuras no ânus e, no futuro, hemorróidas.

Causas da constipação intestinal na criança

  1. Desmame e introdução muito precoce de outros alimentos: o leite materno é o alimento ideal para os bebês e deve ser oferecido exclusivamente até os seis meses de idade. Introduzir precocemente outros alimentos pode levar a constipação.
  2. Leite de vaca: o excesso do leite de vaca na dieta destas crianças pode favorecer a formação de fezes ressecadas devido a saponificação do bolo fecal (pela ação do caseínato de cálcio) e outra causa menos comum, seria a alergia à proteína do leite de vaca ser a causa de constipação.
  3. Treinamento inadequado para o uso do toalete: o treinamento para uso do toalete deve ser iniciado em torno dos 2 anos de idade, quando a criança já está andando sozinha, consegue compreender e seguir comandos simples, além de conseguir diferenciar o cocô e o xixi. É considerado normal demorar até os 4 anos de idade para adquirir o controle dos esfíncteres. Iniciar precocemente o treinamento pode causar constipação.
  4. Entrada precoce na escola: atualmente algumas crianças vão para a escola antes dos seis meses de idade e o treinamento do uso do toalete é feito pelos cuidadores. Se eles não forem bem treinados, podem ocorrer problemas.
  5. Dieta inadequada: crianças que não consomem fibras alimentares (vegetais e frutas) e que não bebem água suficiente tendem a ser constipadas.
  6. Mudanças na rotina: viagens, nascimento do irmão, eventos estressantes e entrada na escola, por exemplo, podem ser causas de constipação mesmo em crianças maiores. Geralmente, esse tipo de constipação é transitório e melhora espontaneamente.
  7. Constipação intestinal orgânica: quando existe alguma doença de base ou alteração anatômica que favorece a alteração da movimentação o intestino.

Tratamento da constipação

O objetivo do tratamento da constipação é obter fezes macias e de fácil eliminação. As principais medidas são educacionais e de treinamento.

  1. Aleitamento materno: o leite materno apresenta melhor digestibilidade, é rico em diversos nutrientes e contribui com neurotransmissores que favorecem a motilidade e maturação intestinal, evitando a constipação intestinal.
  2. Educação dos pais e cuidadores: inicialmente tranquilizar quanto a época de treinamento do esfíncter da criança e que cada uma tem o seu tempo. Nunca punir ou brigar com a criança que ainda não alcançou o controle esfincteriano. Orientar os pais e cuidadores sobre as causas constipação funcional e estratégias para lidar com o problema é fundamental. Crianças em uso de laxativos precisam ter acesso ao banheiro durante as aulas, se precisarem.
  3. Dieta: a criança deve ingerir uma quantidade adequada de fibras alimentares através do consumo de frutas, vegetais, cereais, grãos e sementes. São recomendadas de 5 a 8 porções de frutas e vegetais por dia.
  4. Os alimentos mais recomendados para uma criança constipada são: maçã com a casca (de acordo com a idade da criança), mamão, pêra, ameixa, kiwi, frutas vermelhas, folhas, alho, cebola, aspargos, aveia, farelo de trigo, grão de bico, feijão e linhaça. A criança constipada não deve consumir um excesso de fibras alimentares, mas a quantidade recomendada para todas a sua faixa etária.
  5. Consumo de água: crianças de até 10 kg de peso devem tomar de 700 a 1000 ml de água por dia. Acima desse peso, o manual da Sociedade Brasileira de Pediatria (2018) recomenda as seguintes quantidades:
    Peso da criança (kg) Quantidade de água por dia (ml)
    10 1000
    11 1050
    12 1100
    13 1150
    14 1200
    15 1250
    16 1300
    17 1350
    18 1400
    19 1450
    20 1500
    21 1520
    22 1540
    23 1560
    24 1580
    25 1600
    26 1620
    27 1640
    28 1660
    29 1680
    30 1700
  6. Atividades físicas: exercícios regulares ajudam a estabelecer um funcionamento intestinal normal.
  7. Rotina: o momento logo após as refeições é o melhor para evacuar, pois a presença dos alimentos no estômago estimula a motilidade do intestino. Estabelecer horários para ir ao banheiro desde cedo pode inclusive prevenir a constipação infantil. Estimule a criança a se sentar no toalete por 5 a 10 minutos depois de se alimentar e concentrar-se em fazer cocô (nada de celular!).
  8. Adequação do toalete: crianças pequenas precisam de um redutor de assento e um banquinho para apoiarem os pés na hora de ir ao banheiro.
  9. Probióticos: alimentos como iogurte, kefir e vegetais fermentados podem ser introduzidos à dieta, se a criança aceitar. Não existem evidências que indicam que devem ser usados probióticos comerciais para as crianças.
  10. Laxativos: o laxativo mais recomendado atualmente para o tratamento da constipação infantil é o polietilenoglicol (PEG). Além deste, podem ser utilizados a lactulose, o hidróxido de magnésio e o óleo mineral.

Uso de medicamentos para a constipação

O polietilenoglicol (PEG) é apresentado em forma de pó e não tem gosto nem cheiro. Pode ser misturado à água, sucos e leite e tem boa aceitação pelas crianças. Ele atua através da retenção de uma maior quantidade de água nas fezes, que ficam mais amolecidas. É considerado o tratamento mais eficaz para a constipação infantil na atualidade, mas só deve ser utilizado para crianças acima de 12 meses de idade. Eventualmente pode ser indicado para crianças acima de 6 meses de vida.

A lactulose também retém maior quantidade de água nas fezes, além de aumentar seu volume e acelerar o trânsito intestinal. Tem alguns efeitos indesejados como gases, distensão e dor abdominal, pois pode ser fermentada pelas bactérias intestinais.

O hidróxido de magnésio age aumentando a motilidade do intestino. É contraindicado em crianças com doenças renais. Seu sabor desagradável contribui para uma menor adesão ao tratamento.

Os laxantes devem ser utilizados por pelo menos dois meses e retirados apenas após 30 dias de funcionamento intestinal normal, de acordo com a orientação do pediatra.

O que esperar do tratamento da constipação

O tratamento da constipação é longo e, como qualquer doença crônica, o maior desafio é a adesão do paciente ao tratamento. Estima-se que 50 a 80% das crianças tratadas ficarão livres dos laxativos após 5 a 10 anos de tratamento. Em alguns casos, os medicamentos serão necessários na vida adulta.

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Este conteúdo foi originalmente publicado no portal Convite à Saúde.

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